Se você já andou pelas ruas e sequer notou os bueiros sob seus pés, Zuza Seffrin te convida a uma nova perspectiva. Em sua exposição “Gargantas Urbanas”, o fotógrafo porto-alegrense traz um olhar poético e provocador sobre esses sumidouros urbanos, que parecem absorver silenciosamente os resíduos das cidades, mas contam uma história de descaso e poluição. “Engolir é tarefa difícil
destes objetos quase invisíveis, de beleza não reparada e de importância negligenciada… garganta seca, molhada, arranhada”, destaca o artista. A mostra, aberta ao público no Museu da Justiça, Lâmina III, permanece até o dia 29 de novembro e conta com realização da QuipoTech e Cotton Move, e apoio da
Faculdade de Educação Tecnológica do Estado do Rio de Janeiro (Faeterj
Petrópolis), Cora Design e Retalhar.
Esta é a primeira exposição externa que ocupa o espaço do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro e, não à toa, traz como temática um assunto urgente: a gestão de resíduos e da água, que ganha ainda mais destaque com a visão sensível de um artista que viveu na pele o desastre ambiental no Rio Grande do Sul.
Para o Diretor do Departamento de Sustentabilidade e Responsabilidade Social do
Tribunal, Luiz Felipe Fleury, “Os bueiros de Zuza Seffrin cumprem sua função de
alerta, de convocação da sociedade à reflexão e à ação premente contra as atividades urbanas que comprometem o meio ambiente”.
Arte, Conscientização, Sustentabilidade e Tecnologia
A exibição conta ainda com a rastreabilidade das obras em blockchain, feita
pela QuipoTech, contando a história do clique e da confecção de cada peça,
garantindo sua autenticidade. Sobre o processo de feitura das obras e da
exposição, José Guilherme Teixeira, curador e CEO da Cotton Move, destaca a
importância de a matéria que compõe as obras também ser aderente à temática
delas.
“As telas são feitas de algodão reciclado e a impressão nos tecidos foi feita
de forma a não produzir efluentes. A conexão e parceria entre o artista, essas
iniciativas e todas as instituições que estão apoiando e patrocinando esta exposição
permitiram que ela acontecesse de forma tão pujante”.
Lucimar Cunha, curadora da exposição e Diretora Geral da Faeterj Petrópolis,
instituição que deu suporte à gestão de doações após a tragédia causada pelas
chuvas em Petrópolis em 2022, ressalta ainda a conexão entre a arte e a tecnologia,
que atravessa todo o espaço da mostra. “É a partir da tecnologia que podemos criar
mais soluções para trazer resiliência ao planeta Terra, e a arte serve para sensibilizar e levar mais informação para todas as pessoas. Por isso a junção dessas duas coisas é extremamente poderosa”.
O mote tecnológico vai além da rastreabilidade em “Gargantas Urbanas”.
Enquanto a blockchain dá segurança e transparência para as obras, a replicação da
galeria no Metaverso, também produzido pela QuipoTech, é acessível através de
qualquer dispositivo com internet (celular, tablet ou óculos virtuais), trazendo
consigo o caráter de difusão e democratização desta mensagem. Esses são valores
que, assim como o tema central e a mobilização para montar este espaço, estão em consonância com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), em especial os ODSs Cidades e Comunidades Sustentáveis (11), Consumo e produção
responsáveis (12), Ação Contra a Mudança Global do Clima (13) e Parcerias e
Meios de Implementação (17).
Uma solenidade pertinente
Durante a solenidade de abertura da exposição, José Cláudio Fernandes, Juiz
da Vara da Infância e Juventude de Petrópolis e Juiz Auxiliar da Presidência do
Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, destacou o espaço artístico como uma forma
de tornar o museu “não apenas a casa da Justiça, mas também a casa do
acolhimento”. A fala veio não apenas como um convite para atrair o público geral
para aquele espaço, mas também para acenar para as jovens da Casa da Acolhida,
em Petrópolis, que vieram apreciar a exposição e aprender sobre os temas
relacionados a ela.
Essa mensagem de sustentabilidade, transparência e democratização de
acesso chega em um momento propício para a cidade do Rio de Janeiro. Até o dia
19 de novembro, a cidade recebe os principais chefes de Estado e governo para
discutir saúde, educação, turismo, finanças e economia, redução de desastres, combate à fome e à pobreza, sustentabilidade, mudanças climáticas durante os
evento do G20, o principal e mais importante fórum de discussão mundial.
Fleury conclui sobre a relação da mostra com o momento presente: “Esses
bueiros constituem-se como sumidouros das más práticas do negacionismo e das
atividades nefastas ao meio ambiente, cumprindo seu papel como expressão
artística de provocar o questionamento sobre nossa realidade climática".